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sexta-feira, 1 de julho de 2016

DOOM PATROL #1


[Review] Doom Patrol #1, de Way, Derington e Bonvillain

Fonte: Terra Zero

O bizarro tem muitas definições. Ele pode ser considerado grotesco, incomum ou estranho, o que muitas vezes causa um sentimento de curiosidade nas pessoas. Mas, quando falamos essa palavra na linguagem de internet, podemos algumas vezes considerá-la como sinônimo de algo novo e de quebra de paradigmas. Talvez a nova série do título Doom Patrol, de Gerard Way, Nick Derington e Tamara Bonvillain, marque o retorno das boas histórias bizarras nas grandes editoras do EUA.
O selo Young Animal da DC nasceu durante a CCXP 2015. Isso mesmo: foi na viagem feita à São Paulo no ano passado que Way, Dan DiDio e Jim Lee plantaram as sementes da proposta dessa nova iniciativa. Os publishers da DC perceberam o quanto o vocalista da banda My Chemical Romance agitava o público jovem e viram um potencial neste artista, que já havia provado sua qualidade em HQs como The Umbrella AcademyThe True Lives of the Fabulous Killjoys, onde angariou prêmios e boas críticas no cenário estadunidense.
Gerard Way sempre foi muito próximo de Grant Morrison quando explorava suas características de narrativa. Amigos íntimos, ao ponto de cantor de rock ter uma grande citação dentro do livro Superdeuses, do roteirista escocês. Ambos trocaram elogios públicos e, muitas vezes, Way contou que sua vontade de escrever HQs veio da época em que estagiava no selo Vertigo, assessorando a editora Shelly Bond, que cuidava diretamente do título dos Invisíveis, e lá se inspirou nos roteiros malucos que o careca de Glasgow escrevia.
Após o fim do My Chemical Romance, Way emplacou uma carreira como cantor solo, fazendo shows por todo o planeta e aproveitando a força de seu trabalho para promover seus novos projetos. Porém, Way nunca parou de mostrar a vontade de trabalhar com HQ, e com uma equipe pela qual ele tinha paixão. Seu sonho era escrever a Patrulha do Destino, um título com personagens bizarros, quebrados e que, muitas vezes, se escondiam nas sombras para não chocar o mundo com suas aparências grotescas. Felizmente para o artista e para nós, leitores, ele teve uma chance de mostrar sua versão da Patrulha, e ela foi lançada na última quarta-feira (14).
A nova Patrulha do Destino não tem muitas ligações com a que apareceu na edição 24 da revista da Liga da Justiça nos Novos 52. O projeto construído no selo Young Animal é totalmente novo. A ideia deste novo título é desafiar o leitor novo e, também, pegar o leitor antigo pelo gancho da nostalgia. O título é uma grande carta de amor aos leitores da Vertigo do inicio dos anos 1990, pois se apodera do formato e da estética experimental utilizada nas HQs daquela época, em que o leitor terminava sua leitura e retornava para uma segunda, terceira e muitas vezes quarta leitura para pescar referências de cultura pop, estudo da arte utilizada, diagramação das páginas e até jogos de palavras usadas no texto.
À primeira leitura da nova Doom Patrol, você corre o risco de não entender nenhuma linha da revista. Muitas informações são jogadas rapidamente, em um compasso frenético e cheio de boas piadas, com a escrita em seus recordatórios que beiram o lirismo que é marca registrada das letras musicais de Way.
A história apresenta uma nova personagem, chamada Casey Brinke, uma motorista de ambulância sempre instruída a trazer a luz para os lugares escuros, sorrir ainda  que o mundo seja horrível, e amar seu trabalho de salvar pessoas dirigindo seu veículo de emergência. A garota é considerada uma pessoa estranha, num bom sentido. Esse é o elogio que seu colega de trabalho lhe faz, durante uma das cenas de abertura.
A história cresce a partir do momento em que acontece um incidente narrado por Casey, no qual se conta sobre um mundo que poderia existir dentro de um gyro (que é um tipo de burrito grego), O alimento acaba explodindo em frente aos seus olhos e, de lá, foge em chamas o Homem-Robô. Sim, é exatamente o que você leu. A partir daí, a história se desenvolve.
Way aproveita para apresentar algumas pontas de sua trama. Além de apresentar Casey e a cantora Terry None, ele reintroduz o Homem-Robô desmontado e faz uma cena hilária com o chefão Niles Caulder, em uma espécie de interlúdio da HQ. Além de todos esses elementos, ainda é mostrada uma conspiração entre monstros que estão criando uma empresa de fast food que quer escravizar os humanos. São muitos ideias apresentadas juntas, causando uma grande estranheza e, também, um pouco de confusão na cabeça do leitor.
Longe de ser um gibi ruim, a HQ é um abraço aos leitores da Patrulha do Destino. É recomendado que você tenha pelo menos lido algumas edições da equipe durante a passagem de Grant Morrison na revista. Pois ela vai servir para situar o leitor com algumas informações que são jogadas durante a leitura. A equipe criativa aproveita para rechear as páginas com referências, mostrando a estação de trem onde moram as personalidades de Crazy Jane, ou no personagem enigmático Ricardo, que está em busca de Danny a Rua enquanto joga tijolos pela janela, ou até mesmo em Terry None, já que seu nome referencia a personagem Number None, vilã ligada à Irmandade Dadá.
Muitas vezes se fala muito dos roteiros escritos em histórias deste porte criativo. Porém, Nick Derignton merece um parágrafo especial. O jovem artista não tinha nenhum grande trabalho para editoras e, para um estreante, o artista chega em alto nível. Sua arte se encaixa como uma luva para a proposta do título: um estilo cartunesco, aproveitando-se da expressividade dos personagens na história, transformando alguns acontecimentos bizarros em coisas naturais na vida de Casey Brinke, e com direito a uma página de fechamento da edição de deixar o leitor boquiaberto, incluindo o grande gancho deixado para o próximo mês.
As cores vibrante de Tamara Bonvillain são a cereja nesse bolo de bizarrices, finalizando a trinca do trabalho nessa HQ. A artista deixa esse gibi, que normalmente teria uma atmosfera sombria, muito colorido e brilhante, realmente expressando tudo que a protagonista deste quadrinho é na história.
Doom Patrol tem uma boa estreia. Não é uma HQ fácil, é preciso avisar: ela deve ser lida e relida para se extrair todo o seu potencial. Ela diverte e mostra a carta de apresentação do que será Young Animal: revistas com personagens diferentes para um público que gosta de ser desafiado e tem paixão por novidades a cada página.



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