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quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

ETERNITY GIRL #1

Novidades no selo Young Animal da DC nesta semana. Eternity Girl #1 dá início à minissérie em seis partes derivada do evento Milk Wars. Magdalene Visaggio (Kim & Kim), roteirista indicada aos Prêmios Eisner e GLAAD, e Sonny Liew (The Art of Charlie Chan Hock Chye), artista vendedor do Eisner, contarão a história triste de Caroline Sharp, uma ex-agente secreta que não pode morrer e desenvolve sintomas de depressão por causa disso. Sua única solução? Se aliar a uma antiga inimiga e destruir o universo.
[Review] Quem quer viver para sempre em Eternity Girl da Young Animal?
Suicídio é um dos temas mais delicados que um autor pode pensar em abordar em uma de suas obras em qualquer tipo de mídia. Quem nunca leu, assistiu ou escutou algo que aborde o tema de maneira grosseira, desrespeitosa ou glamorizada na vida? Quando lemos a sinopse sobre um quadrinho cuja protagonista sofre de depressão e só deseja deixar de existir, automaticamente tememos pela equipe criativa e até pela editora que publicará tal material. Felizmente, estamos falando do valente time editorial do selo Young Animal, que se arrisca novamente e lança este ano a inusitada Eternity Girl, com roteiro de Magdalene Visaggio e arte de Sonny Liew.
ternity Girl nos conta a história da ex-heroína Caroline Sharp (codinome Chrysalis) —, antes uma operativa meta-humana da organização conhecida como Alpha 13, com a habilidade de controlar a matéria próxima a seu raio de ação. Após um incidente, Caroline é afastada de suas atividades heroicas. Devido à natureza de seus poderes, a protagonista é virtualmente imortal. Nas páginas da primeira edição, vemos cenas do cotidiano de uma heroína em um momento de crise muito sério e alguns flashbacks de sua antiga vida. Até o momento em que uma antiga adversária aborda Chrysalis com uma proposta: destruindo toda a existência, Caroline finalmente poderá morrer.
O roteiro de Visaggio em Eternity Girl caminha em uma linha tênue entre o drama super-heroico visto em publicações como Black Hammer, de Jeff Lemire, e a psicodelia existencialista que já é característica de praticamente toda a linha da Young Animal desde sua fundação. Suicídio e depressão são uma parte enorme e muito importante desta história, mas não são a história. Caroline é mostrada em um dos momentos mais vulneráveis na vida de uma pessoa, mas, em cena alguma, é retratada de forma glamorizada ou muito menos fragilizada excessivamente. Seu poder tem uma natureza destrutiva e dolorosa e isso é uma parte integral da personagem que, na obra, funciona como ferramenta narrativa para algumas situações importantes do roteiro.
Algumas passagens em Eternity Girl são tratadas com certa dose de humor negro, o que alivia um pouco o tema pesado. Desta forma a leitura, que tem um caráter extremamente reflexivo, pode ser apreciada por qualquer tipo de leitor de quadrinhos adultos. Diferente dos trabalhos anteriores de Visaggio (Kim and Kim, para citar um exemplo), Eternity Girl pode parecer um pouco inerte em alguns momentos, mas esta característica é um reflexo da atual condição da protagonista, que se encontra em um ciclo repetitivo de autodestruição — ciclo que é quebrado pelos eventos da primeira edição.
A arte de Sonny Liew é tão sensível quanto o roteiro de Visaggio exige. Desde a caracterização levemente cartunesca do elenco, passando pela fotografia estática em certas passagens até o design mais experimental nas cenas em que Caroline está delirando, tudo funciona de forma eficiente com o roteiro proposto. Há muito espaço para exploração de linguagem corporal em Eternity Girl e Liew se aproveita ao máximo disso com expressões muito humanas. A caracterização da personagem principal também é digna de destaque. Em poucas páginas, Caroline já se torna uma figura assombrosa e cativante. Mérito do artista, que equilibra muito bem as características degradantes que o poder de Chrysalis a conferem com um visual elegante e não tão grosseiro.
Eternity Girl é a primeira edição mais ousada que a Young Animal já lançou, principalmente por colocar um tema muito difícil de se lidar da forma correta nas mãos de uma roteirista que não é muito conhecida do público de quadrinhos. Felizmente, Magdalene Visaggio tem a sensibilidade e a destreza para transformar uma situação delicada como esta em uma história que aborda temas como sanidade mental, solidão e desesperança de frente, mas sem apelação, julgamentos ou alguma proposta velada de gerar debate (o que acontece muitas vezes em se tratando de obras desta natureza).
O principal trunfo deste roteiro e arte é levar a história de forma leve, carregar tudo com uma pegada reflexiva e delirante e respeitar a condição de sua protagonista. Eternity Girl tem, sim, situações duras com as quais todos nós podemos nos identificar, e não é na primeira edição que vemos alguma saída para esta personagem, mas no fundo é uma história sobre alguém que esta farta de tudo e só quer descansar. A Young Animal deixa aqui uma mensagem poderosa sobre sua proposta: o selo vai tratar temas que importam, sim, pois estes precisam ser abordados, mas tudo feito com sensibilidade, coração e ideias novas.

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